sábado, 19 de julho de 2008

- "Joaçaba é uma Merda"

Reafirmando a condição de que o cinema não impõe limites territoriais, usamos o exemplo desta cidade, Joaçaba, meio-oeste de Santa Catarina, longe demais das capitais culturais e financeiras do Brasil, mas terra natal de Rogério Sganzerla, cineasta, que aos 18 anos de idade já escrevia para o jornal Folha de São Paulo como crítico de cinema. Ainda jovem foi vencedor de um festival nacional com seu curta metragem "Documentário" e como prêmio, pôde cursar cinema na Europa, ampliando assim sua visão de mundo e das artes.
Voltando da Europa, estaria registrando definitivamente seu nome na história cinematográfica do Brasil, produzindo o clássico O BANDIDO DA LUZ VERMELHA, filme que tornou-se cult, premiado nacional e internacionalmente, e abre espaço para uma linguagem politicamente incorreta.
A acidez de Rogério em suas temáticas deixavam claro a falta de apoio que recebeu em sua própria localidade tanto em início de carreira quanto para divulgação de suas obras em tempos de reconhecimento nacional.
Enquanto o país cultuava a rebeldia e a mensagem transmitida pelo Bandido e tanto outros filmes que vieram depois, Joaçaba não sabia que tal cineasta era natural dela própria.
Rogério Sganzerla vivia uma relação de amor e ódio com sua terra. Quando na cidade, andava pelas ruas em companhia dos velhos amigos, plebeus e pseudo-intelectuais, fato que o deixava feliz dando validade à visita, porém como artista, não encontrava na própria cidade, espaço para divulgar sua arte e quando tal espaço aparecia, sua linguagem não era compreendida e seus filmes causavam impactos negativos.
Após longa trajetória como cineasta e inúmeras premiações, e mesmo atualmente, após seua falecimento prematuro, Joaçaba não oferece uma sala para exibição de suas obras, salvo cópias em DVD dos seus longas que encontram-se na biblioteca da universidade. O teatro do município comprou o direito de todas as obras do autor, mas jamais abriu espaço para divulgação das mesmas. Tivesse ele ficado no município, não seria reconhecido como o é.
Por isso não causa estranhamento que, em um especial para televisão, gravado na década 80 sobre o diretor, além de estrevista com o mesmo, foi exibido um vídeo clip com cenas do cotidiano de Rogério, juntamente com making offs de seus filmes e depoimentos de familiares e amigos. Em uma cena rápida, ( 01 frame por assim dizer ) aparece, pixada em um muro, a frase JOAÇABA É UMA MERDA.
Tal fato causou polêmica, discussão, e conforme depoimentos de amigos, a demonização do diretor perante a comunidade da referida cidade. Porém a frase refletia a realidade cultural daqueles tempos. Havia muito mais significados nas entrelinhas daquela frase pixada no muro do que apenas a junção daquelas palavras. Basta saber, culturalmente, o que mudou da década de 80 para cá.

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